QUASE EM COMA
A minha tristeza é feita
da possibilidade de um não amanhã,
do alheamento não voluntário no silêncio,
de imobilidade, do vazio, da inconsciência
permeando o que fui e já não sou mais.
Minha memória tornou-se abrangente,
total, fazendo dos detalhes coisas grandes,
como se fundamental e imprescindível
cada fato, cada pessoa, cada objeto,
necessariamente postos na realidade
de presenças obrigatórias, compulsórias,
como a necessidade de respirar.
Perco a individualidade e me continuo em tudo,
comungando energia, partículas, corpos...
Como se transcendesse a mim mesmo pasmo,
nem crítico nem analítico, passivo e só,
em resignação de destino que se cumpre.
Francisco Costa
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