O homem e a sua condição. Parte IV
“O rosto e a sua posição no seio da família e da sociedade.”
Todo o homem nasce com um rosto implícito
Nenhum rosto o predestina a ser herói ou cobarde
Há heróis com rostos tão fúteis do ponto de vista estético
Como cobardes com rostos que prefiguram o grande modelo harmónico.
Mas para que serve o rosto se o intimo o não representa.
Pode a educação modelar as faces delineadas à nascença?
Pode! Quando o individuo ainda jovem se apresenta como um caso
especial; uma ovelha ranhosa no sentido em que não aceita os mesmos
movimentos do relógio, adaptação aos tempos adquiridos pela curta ou
longa ancestralidade, uma propensão à revolta quando é considerado um
dos vários números da manada, com ou sem nome selado. Ou no modelo
oposto. Quando o jovem rosto parece demasiado desobstruído e não
considera o tempo como uma das suas particularidades, por inerência ele
também não considerará a gesta humana. Que ela seja privada ou colectiva
e por consequência obstruirá um certo crescimento. Dizemos um certo;
pois a qualificação da autoridade humana é sempre composta por postos e
opostos, e o crescimento nem sempre deve ser considerado uma bênção.
Nestes dois casos – dizemos dois, pois o propósito é de analisar uma
margem e a outra margem, sem nos imiscuir nos traços que provocam os
leitos da grande e complexa condição humana – poderemos considerar que
encontramos os dois pratos da balança carismática, dois objectos que
quase sempre ignoram o seu fiel.
A educação de cada
rosto tem sempre dois tempos distintos – que se podem sobrepor ou
contrapor – a raiz familiar e o interesse social. Na raiz familiar
procura-se sempre que o espelho patriarca ou matriarca se inclua dentro
dum esquema preestabelecido pela cultura política, social e tribal no
que respeita ao comportamento de cada rosto com o restante dos outros
rostos que compõem a sociedade, de início local, depois nacional. Rara
vez é dado alguma hipótese para uma inserção mais ampla, digamos a nível
internacional, ou até mais chãmente a nível inter-interno. No que
respeita ao nível social, aquele que vai levar o rosto até à
cumplicidade última em relação à soma de todos os rostos que residem na
sua área de vida, actuação ou decisão, pode também ser ratificado pelas
causas atrás mencionadas. – Raiz familiar e interesse social –
O rosto e as máscaras!
Quase sempre o herói se apresenta com um rosto de aventureiro e o
cobarde com rosto de inócuo. Para tentar prefigurar uma imagem dum
herói, remetemo-nos à antiguidade, onde ele aparece retocado pelos
filósofos como uma figura de engenharia máscula e de compleição
incorruptível – na vertente feminina encontramos a voluptuosidade mestra
comandada pelo modelo angélico fomentado na idealização de que o
másculo necessita uma metade diferente. Nada mais falso do que olhar
para um rosto protótipo e lhe assentar um julgamento convencional.
Em certos registros, imagens ou fotos de muitos heróis, - os cobardes
quase sempre ficam esquecidos – encontramos características únicas,
rostos que raramente se apresentam com enfados, proeminência do rosto em
relação ao resto do crânio e uns olhos que falam mais do que a boca.
Quando digo heróis; quero dizer, promotores dum tom benéfico ou nefasto
à sociedade primitiva ou constituída. Um ditador, um descobridor, um
grande poeta, um inovador dirigente politico, um louco cientista ou um
atleta limpo ou conspurcado. Todos são semideuses e se apresentam com um
rosto caricatural. Quando digo cobardes; quero dizer que eles não se
apresentam nas eleições da vida colectiva, que ignoram o tempo dos
outros, são assassinos, anjos, tapam o progresso com uma peneira, cavam a
sua própria sepultura onde se esquecem de se deitar; e dormem à sombra
da bananeira, acusando os heróis de todos os crimes; que os têm pois os
heróis agem, matam ou salvam. Mas vão sempre para a cova que cavaram.
Franco Xisto
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