quarta-feira, 24 de outubro de 2012

O homem e a sua condição. Parte IV

“O rosto e a sua posição no seio da família e da sociedade.”

Todo o homem nasce com um rosto implícito
Nenhum rosto o predestina a ser herói ou cobarde
Há heróis com rostos tão fúteis do ponto de vista estético
Como cobardes com rostos que prefiguram o grande modelo harmónico.

Mas para que serve o rosto se o intimo o não representa.
Pode a educação modelar as faces delineadas à nascença?
Pode! Quando o individuo ainda jovem se apresenta como um caso especial; uma ovelha ranhosa no sentido em que não aceita os mesmos movimentos do relógio, adaptação aos tempos adquiridos pela curta ou longa ancestralidade, uma propensão à revolta quando é considerado um dos vários números da manada, com ou sem nome selado. Ou no modelo oposto. Quando o jovem rosto parece demasiado desobstruído e não considera o tempo como uma das suas particularidades, por inerência ele também não considerará a gesta humana. Que ela seja privada ou colectiva e por consequência obstruirá um certo crescimento. Dizemos um certo; pois a qualificação da autoridade humana é sempre composta por postos e opostos, e o crescimento nem sempre deve ser considerado uma bênção.

Nestes dois casos – dizemos dois, pois o propósito é de analisar uma margem e a outra margem, sem nos imiscuir nos traços que provocam os leitos da grande e complexa condição humana – poderemos considerar que encontramos os dois pratos da balança carismática, dois objectos que quase sempre ignoram o seu fiel.

A educação de cada rosto tem sempre dois tempos distintos – que se podem sobrepor ou contrapor – a raiz familiar e o interesse social. Na raiz familiar procura-se sempre que o espelho patriarca ou matriarca se inclua dentro dum esquema preestabelecido pela cultura política, social e tribal no que respeita ao comportamento de cada rosto com o restante dos outros rostos que compõem a sociedade, de início local, depois nacional. Rara vez é dado alguma hipótese para uma inserção mais ampla, digamos a nível internacional, ou até mais chãmente a nível inter-interno. No que respeita ao nível social, aquele que vai levar o rosto até à cumplicidade última em relação à soma de todos os rostos que residem na sua área de vida, actuação ou decisão, pode também ser ratificado pelas causas atrás mencionadas. – Raiz familiar e interesse social –

O rosto e as máscaras!
Quase sempre o herói se apresenta com um rosto de aventureiro e o cobarde com rosto de inócuo. Para tentar prefigurar uma imagem dum herói, remetemo-nos à antiguidade, onde ele aparece retocado pelos filósofos como uma figura de engenharia máscula e de compleição incorruptível – na vertente feminina encontramos a voluptuosidade mestra comandada pelo modelo angélico fomentado na idealização de que o másculo necessita uma metade diferente. Nada mais falso do que olhar para um rosto protótipo e lhe assentar um julgamento convencional.

Em certos registros, imagens ou fotos de muitos heróis, - os cobardes quase sempre ficam esquecidos – encontramos características únicas, rostos que raramente se apresentam com enfados, proeminência do rosto em relação ao resto do crânio e uns olhos que falam mais do que a boca.

Quando digo heróis; quero dizer, promotores dum tom benéfico ou nefasto à sociedade primitiva ou constituída. Um ditador, um descobridor, um grande poeta, um inovador dirigente politico, um louco cientista ou um atleta limpo ou conspurcado. Todos são semideuses e se apresentam com um rosto caricatural. Quando digo cobardes; quero dizer que eles não se apresentam nas eleições da vida colectiva, que ignoram o tempo dos outros, são assassinos, anjos, tapam o progresso com uma peneira, cavam a sua própria sepultura onde se esquecem de se deitar; e dormem à sombra da bananeira, acusando os heróis de todos os crimes; que os têm pois os heróis agem, matam ou salvam. Mas vão sempre para a cova que cavaram.

Franco Xisto

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